quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
A Península Ibérica e os Lusitanos
Ao estudarmos a História de Portugal e recuando aos
tempos mais remotos, encontramos a Península Ibérica conhecida por Spania. São diversas as conjeturas
acerca da origem deste nome. A mais provável é que ele deriva do Fenício span, que quer dizer esconderijo. Para
os Fenícios, a Península era uma região longínqua e como que escondida nos
confins da terra, num tempo em que a navegação estava ainda no seu começo, e as
distâncias e os longes se mediam pelas dificuldades dos meios de deslocação. A
etimologia da palavra Espanha derivada da fenícia span, parece pois legítima. Também se diz que que o nome spania vem do facto de ali terem
encontrado grande quantidade de coelhos, de cuja significação, duplicada de
oculta e coelho, viesse o nome à “Hespanha”. Os Gregos também denominavam
frequentemente esta região de Hespera,
país do ocidente, face à sua situação geográfica a oeste, em relação à Grécia;
em grego hespera significa tarde,
ocidente. Os poetas Romanos muitas vezes lhe davam esta denominação, porque a
sua língua e literatura tinham muitas palavras emprestadas do Grego.
O nome Ibéria
pelo qual é designada a Península mais comummente, surge pela primeira vez na
narração de Scylax de Carianda, explorador e marinheiro grego que viveu no
século VI a.C. Num périplo à costa das colinas de Hércules (Gibraltar), abordou
um rio chamado Iber, Ibris ou Iberos (Ebro), dando o primeiro nome à
Península inteira e o de Iberos aos povos que a habitavam.
Com certeza não se pode afirmar que a Península foi
habitada por alguma tribo ou família indígena. Dela não se conhece sinal ou
vestígio algum certo, assim, a opinião mais comum é que ali terão havido
povoações mais ou menos antigas, umas anteriores às outras.
O primeiro povo de que há notícia a habitar a “Hespanha”,
é aquele de que parece descenderem os Bascos, os euskara ou euscaldunac,
também denominados iberos. Já seis
séculos antes da nossa era deixou este povo de ser preponderante na Península,
como resultado da migração através dos Pirenéus dum outro povo, belicoso e
bárbaro, os Celtas ou Célticos que, em resultado de ferozes
combates e da sua superioridade em número, ocuparam toda a Península. Estes
dois povos, originários da Ásia, fundiram-se num novo, exceto um outro que
emigrou, com o nome de Liguros e Sícanos. É desta época que os autores datam a
mistura do célebre povo que originou os Celtiberos. Cântabros, Arturos e Vascónios, ao norte; Galaicos e Lusitanos ao ocidente.
Uma outra versão sugere que estes Celtas, vindos da Gália, encontraram na Península outros povos celtas aí estabelecidos havia séculos, possuidores das melhores habitações e das melhores terras do que os recém-chegados, quiseram essas mesmas terras e habitações, e, por algum tempo, disputaram a sua posse em combates violentos, porém, porque nem todas as terras estavam ocupadas e havendo lugar para todos, trataram da paz e se reconheceram como homens da mesma estirpe, os antigos e os modernos, “hespanhóis-gauleses”, aliaram-se, e, do rio Ibero tomaram o nome de Celtiberos, que os distinguiu, quer dos Celtas residentes na Gália, quer dos antecedentemente estabelecidos na “Hespanha”. Como quer que tenha sido, o que parece certo é que, da fusão destes povos, nasceram no território central da Ibéria as tribos mistas chamadas Celtiberos e os Célticos formaram os grupos tribais bárbaros:
Uma outra versão sugere que estes Celtas, vindos da Gália, encontraram na Península outros povos celtas aí estabelecidos havia séculos, possuidores das melhores habitações e das melhores terras do que os recém-chegados, quiseram essas mesmas terras e habitações, e, por algum tempo, disputaram a sua posse em combates violentos, porém, porque nem todas as terras estavam ocupadas e havendo lugar para todos, trataram da paz e se reconheceram como homens da mesma estirpe, os antigos e os modernos, “hespanhóis-gauleses”, aliaram-se, e, do rio Ibero tomaram o nome de Celtiberos, que os distinguiu, quer dos Celtas residentes na Gália, quer dos antecedentemente estabelecidos na “Hespanha”. Como quer que tenha sido, o que parece certo é que, da fusão destes povos, nasceram no território central da Ibéria as tribos mistas chamadas Celtiberos e os Célticos formaram os grupos tribais bárbaros:
Segundo Alexandre Herculano, a origem das nações deve
procurar-se na agregação de homens ligados por certas condições,
distinguindo-se todas as sociedades humanas entre si por caracteres que
determinam a existência individual desses corpos morais, caracteres que podem
variar de uns para outros povos. No entanto, segundo a opinião do mesmo autor,
há três pelos quais comummente se aprecia a unidade ou entidade nacional de
diversas e sucessivas gerações, são eles: a raça, a língua e o território. Desta forma se poderá,
afirma o escritor, estabelecer a transição natural dos povos a que pretendemos
atribuir a origem da nação, do povo cuja história queremos conhecer.
Como é historicamente que consideramos a nação
portuguesa, importa saber se entre nós e algum dos povos ou tribos que em
tempos remotos habitaram a Península Ibérica, existem pontos de contacto que
nos liguem a esses povos primitivos.
No começo da história, os nossos cronistas terão
sentido que, antes dessa época, faltaria algo que unisse o Portugal que nascia,
ao mundo antigo. Portugal seria como que um conjunto de fragmentos de povos
habitadores da Península, diversos em tribos, em costumes e em línguas, cujas
mudanças e revoluções se ligavam complexamente na passagem do tempo por um
facto constante – os limites topográficos deste território entre os Pirenéus e
o mar. Para isso se enumeraram as diversas tribos que supostamente ocuparam o
nosso território e os limites onde elas assentaram. Naquilo que nos interessa,
o povo a quem alguns historiadores acharam por nossos avós, foi encontrado –
são os Lusitanos. Resta examinar quem eram estes antepassados nossos e os
territórios em que habitavam, para depois vermos se subsistem as relações mais
características de família e língua.
Os limites do nosso Portugal moderno não são os
mesmos, em termos geográficos, da antiga Lusitânia, e mesmo estes não eram
precisos. Segundo Estrabão, o território da Lusitânia era limitado a norte e
poente pelo oceano, limitado a sul pelo Tejo e para o oriente ultrapassava em
muito as nossas atuais fronteiras. Também, segundo o mesmo autor, o oeste da
Ibéria constava de três grandes regiões, determinadas fisicamente: o Cynetium (Algarve), a Mesoptâmia (entre Tejo e Guadiana) e a Lusitânia
primitiva (entre o Tejo e o extremo norte da Galiza), a qual se decompunha em
duas áreas: comarca dentre Douro e Tejo e a Galiza (ou Callaecia). No entanto, alega-se que são indecisas as noções de
Estrabão, pois ora inclui a Galiza e o território de entre Douro e Minho na
Lusitânia, ora os separa estabelecendo o Douro como divisória, fazendo ocupar
este território por uma emigração dos Celtas (Turdetanos e Túrdulos). No tempo
da cultura castreja (século VI a.C.), ao que parece, o país situava-se entre os
rios Minho e Douro e o Guadiana a sul. A pátria Lusitana ocuparia a metade, a
região entre o Douro e o Tejo. Porém, o que evidentemente se deduz dos geógrafos
antigos, tanto dos que falaram da Lusitânia antes da conquista romana, como dos
que se fundamentaram nas divisões por estes estabelecida, os territórios a que
se deu o nome de Lusitânia estendiam-se pelas províncias espanholas muito para
além das fronteiras orientais de Portugal. Parece certo na nova divisão das
províncias da “Hespanha”, feita pelos Romanos, que estes fixaram a Lusitânia,
ao norte no Douro, a sul no Guadiana e para o oriente iam muito além da raia
portuguesa, incluindo Salamanca até próximo de Toledo, daí para sul e depois
para nascente seguindo o curso do Guadiana desde a nascente até à sua foz.
Os grupos étnicos que habitavam a Lusitânia na
proto-história, isto é, na fase de transição entre a pré-história e a história
(aparecimento dos primeiros objetos de metal, a escrita e também a chegada dos
Romanos à Península, no século III a.C.), terão sido os seguintes: na região do
Cynetium viviam os Cynetes ou Curetes, os Cemsi, os Glaetes, os Turdetani e os Celtici; a
norte do Tagus (Tejo), encontramos os Turdeli
Veteres, os Transcudani, os Igaeditani e os Presuni ainda a sul do Douro. Do Douro para o extremo norte
habitavam os Callaeci. Também na
mesma região habitariam outros Celtici,
povos resultantes da fusão de Celtas
com Callaeci, de que se distinguem os
Grovi. Ainda entre o Durius (Douro) e o Minius (Minho) se situavam os Callaico
Bracari, os Leuni e os Seurbi. Para leste, na região a que hoje
corresponde Trás-os-Montes, ficavam os Turodi.
Por aqui se vê que não existia unidade social na Lusitânia, e que as populações
estavam distribuídas por tribos. Terão sido os Fenícios, Lígures, Gregos,
Celtas e Cartagineses, que, cruzando-se com os primitivos povos das Lusitânia,
deram origem aos Lusitanos proto-históricos.
O nome Lusitânia, segundo alguns autores, deriva de Lusitani. Têm sido diversas as hipóteses
emitidas, quanto à sua origem: segundo uns, provém de Lusus ou Lysa, segundo a
qual a raiz Lus era muito vulgar em
território celta, porém outros o deduzem de Liusetani,
por sua vez tirado de liguses, antiga forma de Lígures. Uma outra hipótese
defendida é a que funda a etimologia de Lusitani
em Lusones, nome de uma tribo
celtibérica de que falam Estrabão e Apiano. Também se afirma que a origem do
nome Lusitânia se baseia no costume
dos Iberos dizerem os nomes das cidades, províncias, países, do dos povos que
ali habitavam, acrescentando-lhes uma palavra: do nome Lusões ou Lusas,
acrescentando-lhes tania, se compõe o
de Lusitânia, que na língua céltica
quer dizer, terra, província ou pátria dos Lutos.
O nome de Lusões, vem de Lous, querendo dizer grandeza, altura,
valentia, ao pouco que os assustava a morte e ao ódio com que abominavam o
domínio estrangeiro. Se esta etimologia dada ao termo Lusitânia não é correta, parece no entanto ser a mais razoável,
dado assentar em factos reais. Esta denominação veio a ser tão familiar aos
romanos, que por este único nome conheceram este povo, embora os Lusitanos
algumas vezes se apelidassem de Bellitanos e outras de Bellidonios.
Acaso seria possível que todos estes povos ou etnias,
já confundidos nos territórios centrais quando da abordagem dos Cartagineses,
conseguisse resistir sem se alterar, às invasões dos Gregos e Fenícios, à
conquista romana, à invasão dos Alanos, Visigodos e à conquista árabe? O
Celticismo das primeiras migrações asiáticas, foi sendo destruído pelo longo
domínio Cartaginês, tendo desaparecido por completo sob o império dos Romanos,
deixando apenas alguns fragmentos dos seus altares e rudes moradas, ou uma e
outra palavra da sua linguagem. O esquecimento, principiado com os
estabelecimentos comerciais (a abordagem dos fenícios) e continuado pelos
sistemas políticos das grandes nações que invadiram a Península, acabou com a
fusão destes povos na nação romana. Se esta assimilação ainda não era completa,
durante o século VI, época em que definitivamente o império visigótico se
assentou na Península, os Visigodos tinham o seu código, uma compilação dos
seus costumes tradicionais, os vencidos (hispano-romanos), regiam-se pela lei
romana, e, em meados do século VII, já todos os povos se achavam assaz
confundidos. Para não haver descriminação entre vencedores e vencidos, se
publicou o célebre código visigótico,
onde as diversas instituições bárbaras e romanas se encontraram, modificaram e
se aboliram as últimas distinções legais. Século e meio de trato sucessivo
entre homens unidos pela mesma crença religiosa, não se passou em vão, pois
trouxe a equiparação dos dois povos em direitos e deveres e a sua fusão completa.
A conquista árabe já não foi assim, dado que entre os povos visigóticos e os
sarracenos havia a diferença das religiões; no entanto, as relações amigáveis
que se estabeleciam entre os chefes dos dois povos, os usos, os costumes e
ainda as instituições que passaram de uma sociedade para a outra, mostram que
apesar das crenças, da rivalidade do domínio e dos rios de sangue vertido, os
dois povos se moldaram ao contato um do outro.
O mesmo se poderá dizer na língua. A linguagem
céltica não deixou vestígios e os efeitos da conquista romana alargaram-se
também à transformação dos idiomas da Península. Antes falar-se-ia uma
linguagem bárbara e confusa à mistura de Ibérico, Céltico, Fenício, Grego e
Púnico (cartaginês), porque estas foram as misturas no sangue dos habitantes da
Península, e ainda existem vestígios. Com a conquista romana, transformaram-se
os idiomas; os vencedores impuseram-se aos vencidos. Era este um dos elementos
da dominação do império, quer nos povos vencidos, quer nos aliados. A seguir
aos Romanos, vieram os Visigodos e os Árabes, e deles nos restam ainda
vestígios da linguagem.
Tendo havido pois uma assimilação completa dos povos
habitadores de toda Península perante o domínio visigodo, parece que a razão
que alguns autores encontraram para nossos avós, apenas assenta na realidade
geográfica donde nasceu Portugal, pois nos povos que habitavam a Lusitânia não
se encontravam reunidas as outras duas condições de que falava Alexandre
Herculano.
No entanto, os historiadores que acham que os nossos
antepassados são os Lusitanos, argumentam com o facto de que há uma
originalidade coletiva no povo português. A unidade histórica peninsular,
apesar do dualismo político, será a prova da originalidade portuguesa. De entre
as tribos ibéricas, a lusitana era, se não a mais, uma das mais caracterizadas
individualmente; há no génio português algo de vago e fugitivo, contrastante
com a afirmativa do castelhano. No heroísmo lusitano há uma nobreza que difere
da fúria espanhola; nas nossas letras e pensamento há uma nota profunda e
sentimental, irónica ou meiga, que não se encontra na civilização de Castela – violenta,
apaixonada, capaz de inventivas, mas alheia a toda a ironia, – mais que humana
muitas vezes, mas outras abaixo da craveira humana, mais parecida com as feras.
Trágica e ardente, a história espanhola é diferente da portuguesa, mais épica;
as dissemelhanças da história traduzem as diferenças de carácter. Creem que a
individualidade do carácter dos lusitanos provem duma dose maior de sangue
celta que gira nas nossas veias, misturado com o nosso sangue ibérico. Os nomes
próprios de lugares, de nomes de pessoas e divindades, extraídos das inscrições
latinas da Lusitânia e da Tarraconense, que constituem o nosso Portugal, provam
a preponderância de um elemento céltico.
Sem pretensões de prender ou
afastar a nossa história com a desses povos que nos precederam, apenas se
apresentam alguns dos fundamentos que há para rejeitar, ou não, essa
paternidade. A história desse tempo é escura e os relatos dos acontecimentos
que mudaram tanta vez, só começa a aclarar-se com os relatos dos historiadores
gregos e romanos, que nos contam as guerras que uns e outros sustentaram na
Península para aqui estabelecerem o seu domínio.
M. S.
Bibliografia:
História de Portugal
desde os tempos primitivos… (Introdução – Francisco Duarte d’Almeida e Araújo)
(Biblioteca Pública Nacional, Lisboa)
História de Portugal
(Alexandre Herculano – 8ª edição – tomo I – Introdução) Biblioteca Pública
Nacional, Lisboa)
História de Portugal
(J. P. Oliveira Martins – tomo I) (Biblioteca Pública Nacional, Lisboa)
Revista Nova Acrópole nº 30 – 1986
(Eduardo Amarante)
terça-feira, 24 de abril de 2018
Reflecção sobre Agualva
AGUALVA
Topónimo sem grandes dificuldades de
etimologia. Deriva de Água Alva (do
latim Aqua Alba). A primeira referência conhecida surge
nas Inquisições Afonsinas de 1220,
que anotam entre os bens do Mosteiro de S. Vicente de Fora, uma herdade em Água Alva com dois casais (in aqua
albunam hereditatem cum duobus casalibus).
Em 1272 aparece referida a Ribeira de Aqua Alba. Em 1286 tem já a forma portuguesa Agua
Alva.
Foi
sofrendo diversas alterações, e hesita em fixar-se numa forma definitiva; desde
1323 até princípios do séc. XIX
escrevia-se Agoalva.
Agualva vai buscar as suas origens à água que
ali passava com grande abundância e, ao que tudo indica era alva e pura.
Antes
disso, chamava-se Jarda, de Jardo, o
que significa amarelento, termo que, aplicado aos homens, quer dizer
"homem loiro".
É
precisamente com este apelido ou alcunha que nos aparece no séc. XIII, aquela que é a figura mais
ilustre da freguesia:
Domingos Anes Jardo.
Nasceu em Agualva-Cacém, no seio de uma
família humilde, foi Bispo de Évora e
Lisboa, e fundador do Convento dos
Loios, Chanceler-Mor do Rei D. Dinis
e fundador da Universidade de Lisboa, e ainda do Seminário de Santo Elói, São
Paulo e São Clemente, tendo deixado por sua morte, todos os bens a este
Seminário. Faleceu em Dezembro de 1294.
Agualva é a mais jovem freguesia das quinze
que constituem o concelho de Sintra.
Vem de tempos remotos a fixação das primeiras
populações no local.
Agualva, Vila e Cidade
A
freguesia de Agualva-Cacém, criada pelo Decreto-Lei nº. 39210, de 15 de Maio de
1953, tem conhecido um processo de evolução e desenvolvimento que a têm
descaracterizado e isolado naquele conjunto de "vilas dormitório" que
foram crescendo ao longo da linha de comboio, que liga Sintra a Lisboa.
Esta
freguesia, que hoje vive entre o desconforto das grandes urbanizações, ainda
preserva algumas memórias do passado. Estas tiveram até há poucos anos atrás,
enquadradas numa paisagem descrita por muitos autores, como desafogada e com um
tanto revestimento vegetal de vinhedos, pinheiros, eucaliptos e oliveiras.
A ocupação destas terras é muito antiga,
o que pode ser testemunhado pelo Monumento
Funerário Pré-Histórico, que é a Anta de
Agualva. Hoje encontra-se em bom estado de conservação, porque foram feitos
esforços para preservar o espaço onde está implantado.
Também
desse tempo merecem referência a Gruta
de Colaride, espaço que o homem pré-histórico adotou para as suas práticas
diárias.
Agualva-Cacém,
tem tido grande desenvolvimento populacional e urbano, foi elevada a Vila pela Lei nº. 66/1985, e à
categoria de Cidade pela Lei nº.
34/2001 de 12 de Julho.
Pela
Lei nº. 11-A/2013 de 28 de Janeiro, dá cumprimento à obrigação de reorganização
administrativa de algumas freguesias, nomeadamente Agualva e Mira-Sintra,
passando a designar-se União de
Freguesias de Agualva e Mira-Sintra.
Agualva
e Mira-Sintra é a terceira maior
freguesia do concelho de Sintra, destacando-se a sede dos Bombeiros
Voluntários de Agualva-Cacém, a esquadra da PSP, uma Biblioteca Municipal, um
Centro Lúdico, um Centro de Saúde, e uma Loja do cidadão, entre outros
serviços.
Moinhos e Azenhas
Nalguns
lugares da freguesia, aonde a urbanização desordenada ainda não chegou,
encontram-se vestígios arruinados de alguns dos numerosos moinhos e azenhas que noutros tempos existiam por montes e ribeiros
de Agualva-Cacém.
Hoje
temos imensa dificuldade em imaginar a paisagem rural de então. Onde agora se
erguem os enormes blocos de cimento armado que nos servem de
"dormitórios", outrora eram
casais agrícolas e quintas dispersas, que forneciam os legumes frescos para abastecer as grandes
cidades.
FEIRA DE AGUALVA
A
Feira de Agualva era uma das mais antigas da região saloia, que se realizava desde 1713 na Praça da República,
tendo acabado infelizmente, em 2005,
quebrando assim uma tradição de quase 300 anos.
A
Feira de Agualva era sempre no mês de Maio,
durava todo o mês, estendia-se desde a Praça
da República (Largo da Feira)
até à linha do Caminho-de-ferro,
tinha todo o tipo de comércio, desde restaurantes, onde se comiam as primeiras sardinhas da época,
vestuário, legumes e hortaliças, apetrechos para o lar, barracas de farturas,
carroceis, etc.
Era uma referência na região, havia convívio
principalmente ao final do dia e fins-de-semana. Tudo foi desaparecendo, até o "coreto" e com as últimas obras de Requalificação da Praça, temos
agora um espaço enorme que mais parece um deserto!
Afinal nem tudo acaba
bem...
Proteção e valorização Do património cultural de Agualva - Cacém
Têm-se
deparado com difíceis obstáculos, os habitantes desta localidade vivem alheios
às tradições e história local. Não
sentem nem se identificam com uma herança cultural que também é sua, e por
vezes assistem quase indiferentes à progressiva degradação e destruição do
património cultural construído e do património natural.
De salientar o papel da Autarquia na desmistificação desta situação, promovendo ações de divulgação junto dos moradores para que possam dar valor não só ao
espaço em que vivem, mas também ao património que os envolve, para que se
verifique uma melhoria da qualidade de vida e bem-estar da população.
Mimi
Diogo (Maria Diogo)
Tapetes de Arraiolos
A História de Arraiolos parece perder-se no
tempo. Vestígios relacionáveis com o Neolítico e o Calcolítico dão-nos sinais
de uma significativa presença humana a partir do IV milénio AC e que,
possivelmente, na elevação onde se localiza o castelo, seria já, na
Proto-história, um grande local de habitação.
O historiador arraiolense Joaquim Heliodoro
da Cunha Rivara, na sua obra «Memórias da
Vila de Arraiolos», depois de se referir a alguns aspetos históricos, bem
como da sua nobreza e antiguidade, refere “… seja como for, tenho por certo que em princípios do século XIII já
havia população no sítio de Arraiolos…” É ainda o mesmo autor que nos
transmite referências do padre António de Carvalho da Costa, na «Corographia Portugueza» (tomo 2 pág.
525) e do padre Luís Cardoso no «Diccionario
Geographico» (tomo 1º pág. 590), onde se atribui a fundação de Arraiolos a
Sabinos, Tusculanos e Albanos, que foram ocupantes da cidade de Évora, antes de
Sertório, e deram o governo de Arraiolos ao capitão grego, Reyo. Deste nome
parece ter derivado o nome da povoação, já que de Reyo terá passado a Rayolis,
Rayeopolis, Arrayolos e hoje Arraiolos.
Em 1212 inicia-se
um novo capítulo da história, com a concessão do termo do Arraiolos, por D.
Afonso II, ao bispo de Évora, D. Soeiro, e ao cabido da Sé da dita cidade.
D. Dinis atribui à vila o seu primeiro foral,
em 1290 e, em 1305, manda edificar o Castelo, sendo outorgado o contrato para a
sua construção em 26 de Dezembro do mesmo ano, entre o Rei e o Concelho,
representado por João Anes e Martim Fernandes.
O título de Conde de Arraiolos foi
originalmente concedido, por carta de D. Fernando, em 1371, a Álvaro Pires de
Castro (irmão de Inês de Castro), ficando o título vago por o seu filho
legítimo herdeiro (D. Pedro) ter seguido o partido de Castela. Em 16 de
dezembro de 1387, D. João I nomeou D. Nuno Alvares Pereira, o Condestável, como
2º Conde de Arraiolos, tendo este ali vivido longos períodos da sua vida antes
de se recolher ao Convento do Carmo, em Lisboa.
Em 1511 Arraiolos recebe novo foral de D.
Manuel I.
Tendo os seus limites administrativos a
partir de 1736, Arraiolos sofreu entretanto algumas alterações: inclusão no
distrito de Évora (1835); anexação do concelho de Vimieiro (1855); anexação do
concelho de Mora (1895) e, depois, sua desanexação (1898).
ARRAIOLOS, TERRA DOS TAPETES
Os Tapetes de Arraiolos são de há séculos a
imagem de marca a que a vila e o concelho são indissociáveis. São séculos de
história bordados à mão por gerações de bordadeiras que fizeram chegar até aos
nossos dias o nosso mais genuíno artesanato, «o Tapete de Arraiolos». Arte
antiga feita de muitos “saberes” e um
mesmo “saber fazer”, que mãos exímias
souberam construir, numa manifestação artística conhecida em todo o mundo e com
lugar de destaque nas artes portuguesas, cuja origem se perde ao longo do
tempo, testemunho de uma manufatura própria e única, sem repetição em qualquer
outra parte do mundo. Peça têxtil genuinamente portuguesa, parte da história de
Portugal, onde a influência oriental é a sua base estrutural decorativa,
misturada com o saber local do bordar, através do uso do ponto cruzado oblíquo.
O ponto cruzado surge na Península a partir
do século XII, sendo manifesta a utilização duma técnica com características
muçulmanas (a Espanha recorre à seda, Portugal à lã).
Acerca da origem e história dos Tapetes de
Arraiolos sabe-se que a região dispunha de condições favoráveis para o
desenvolvimento deste artesanato, onde abundava a produção de lã em paralelo
com uma importante atividade têxtil.
Arraiolos terá sido um dos locais onde se
terão estabelecido algumas famílias de mouros expulsos por D. Manuel I, em
1496. Localizaram-se na região alentejana, onde deitou raízes a influência
islâmica e, debaixo da aparência da recente conversão, apoiaram-se nos seus
tradicionais ofícios.
Já na primeira metade do século XVIII,
Arraiolos fornecia outras regiões do País, tornando-se no principal centro
deste tipo de bordado. Este tipo de tapetes era habitualmente utilizado no
arranjo decorativo da casa portuguesa do século XVIII (revestimento de paredes,
mesas e arcas, e cobertura de pavimentos).
Em
documentação relativa à sisa de 1573, do núcleo urbano com profissão indicada,
de 122 moradores, 31 (25%) tinham profissões ligadas ao ramo: 18 tecelões, 7
cardadores, 2 pisoeiros, 2 tosadores, 1 tintureiro e 1 surrador. Os próprios
inventários dão conta da importância destas atividades no conjunto da
população. A produção de tapetes exigia quási todas estas as profissões, quer
na preparação da lã e coloração, quer na produção da tela na qual o bordado se
executava.
A referência mais antiga conhecida está no
inventário (1598) de Catarina Rodrigues, mulher de João Lourenço, lavrador e
morador na herdade de Bolelos, no termo de Arraiolos, onde é descrita a
existência de um tapete da terra, novo, avaliado em “dous mil Reis”, que se encontra no Arquivo Municipal de Arraiolos.
No mesmo arquivo se encontra descrito outro exemplar, que a bordadeira deixou
incompleto, no inventário de Juliana Dordio, mulher de Belchior Meirinho,
moradora em Arraiolos, na rua da Cruz, onde de entre os bens do casal se
menciona “hum tapete por acabar avaliado
em mil Reis” e, mais à frente “huns
pouquos de novelos de fiado de lam para tapete de cores avalliados em
tressentos Reis”, “sinquo vellos de
lam quatro pretos e hum branquo (…)” e “des
aRateis de lam asul (…)”.
Se há referências que provam que já em 1598
se bordavam tapetes em Arraiolos, recentes investigações documentais e
arqueológicas apontam para que as origens de produção desta expressão
artística, em Arraiolos, sejam ainda mais antigas.
Com efeito, o estudo de amostras recolhidas
pelo Laboratório do Museu de Arqueologia da Catalunha (Barcelona), provenientes
das fossas escavadas na Praça do Município, identificou a presença de lã de
ovelha com restos de tintura por ação da raiz da “Rubia tintorum”, uma das plantas utilizadas na tinturaria, assim
como escavações arqueológicas, sob a responsabilidade da arqueológa Ana
Gonçalves, realizadas na Praça Lima e Brito, sem prejuízo de uma investigação
mais pormenorizada, indiciam a produção de tapetes em Arraiolos para uma fase
anterior ao século XV.
M.S.
M.S.
Fontes:
http://www.bdalentejo.net/BDAObra/obras/80/BlocosPDF/bloco09-55_64.pdf
http://www.cm-arraiolos.pt/pt/site-visitar/tapetes%20de%20arraiolos/Paginas/Breve-apontamento-historico.aspx
http://www.cm-arraiolos.pt/pt/site-municipio/O%20Concelho/Paginas/Apontamento-Hist%C3%B3rico.aspx
https://www.infopedia.pt/$tapetes-de-arraiolos
Dissertação de Rita Carvalho Teixeira de
Oliveira Marques, FCT da Universidade Nova de Lisboa (Grau de Mestre em Conservação
e Restauro)
sábado, 21 de abril de 2018
Agualva, Sintra
“O povoamento do território da freguesia remonta à conquista Cristã de
Lisboa e Sintra aos Mouros, em 1147, por D. Afonso Henriques. A primeira
referência conhecida surge nas inquirições Afonsinas de 1220.
No século XII, “Agualva” e Cacém já eram povoadas. O curso da ribeira
das Jardas ou da Água Alva demarcavam então os limites administrativos e
paroquiais. Agualva e outros lugares da margem esquerda da Ribeira faziam parte
da freguesia de Belas, enquanto Cacém, São Marcos e outros lugares da margem
direita estavam integrados no termo de Sintra e faziam parte da freguesia de
Rio de Mouro.
Note-se que Agualva, enquanto lugar da freguesia de Belas era lugar
conhecido por Jardo, o que levou o célebre Bispo de Lisboa, D. Domingos, por
ter nascido ali a apelidar-se de Jardo.
Nos séculos seguintes expandiu-se o povoamento e a ocupação do
território com o aparecimento de várias quintas solarengas (Quinta da Barroca,
Quinta da Fidalga, Quinta do Tojal, etc.). No final do séc. XVIII Agualva-Cacém
teria cerca de 450 habitantes e em meados do séc. XIX cerca de 500. A 3 de
Junho de 1709 é dado alvará à feira de Agualva, uma das mais antigas da região
saloia, com o objetivo de manter a ermida de Nª. Sra. da Consolação.” (https://www.jf-agualvamirasintra.pt/a-freguesia/origemhistoria/)
Segundo o Diccionario Geografico
do padre Luís Cardoso da Congregação do Oratorio de Lisboa, Academico Real do
Numero da Historia Portuguesa, Tomo I, (Biblioteca Nacional de Lisboa), Agualva
é «Lugar na Província da Estremadura,
Patriarcado de Lisboa e Termo da Cidade de Lisboa, Comarca de Torres Vedras,
Freguesia de Nossa Senhora de Misericórdia de Belas: tem trinta e oito vizinhos
com sua Ermida dedicada a N. Senhora da Consolação, Imagem milagrosa e de muita
romagem no mês de Maio. Há outra Ermida dedicada a N. Senhora do Carmo, de José
Ramos da Silva, Provedor da Casa da Moeda.»
Foi neste lugar, outrora chamado Jardo, ou Jarda, hoje conhecido com o
nome de Agualva, que nasceu de pais humildes o arcebispo D. Domingos, que da sua
terra adotou o sobrenome de Jardo, “igualmente
assistido dos dotes da natureza e desamparado dos bens da fortuna”.
Vendo-se este entre as misérias e ignorâncias da sua terra e levado do grande
desejo que tinha de se entregar no estudo das letras, “para que tinha natural inclinação”, aos catorze anos resolveu deixar
o lugar e a companhia de seus pais´, indo para a Lisboa. Vendo que ali não
havia estudos, partiu para a Cidade de Paris, para cursar naquela Universidade,
acabando por se laurear na faculdade dos sagrados Cânones, onde adquiriu nome e
foi conhecido geralmente por insigne letrado entre os grandes daquela
Universidade. Era grande o desejo de voltar para a sua Pátria, porém, ainda
passou por Roma, visitando os lugares santos e acabando aí por se ordenar
Sacerdote; durante o tempo em que esteve na Cúria Romana, vagando uma Conezia
de Évora, foi nela provido e veio para o Reino, dando-se logo a conhecer pelos
seus dotes de grande letrado, “por cuja
causa o Senhor Rei D. Afonso IV (a) o
chamou a si e o fez seu Chanceler-mor.” Na vagante do arcebispado de Évora,
foi ocupar lugar naquela Mitra; pouco depois vagando o de Lisboa, foi
transferido neste arcebispado pelo Sumo Pontífice Nicolau IV, “com grande gosto do Senhor Rei D. Dinis”.
Vendo D. Domingos Jardo o grande desfavor que causava a este Reino a
falta de estudos, o que não permitia o aproveitamento de algumas pessoas com
talento e inclinação para as letras, para que se não deixassem de aproveitar,
pediu ao Rei D. Dinis que instituísse neste Reino uma Universidade, o qual facilmente
se deixou persuadir e logo erigiu uma no bairro de Alfama, na Corte de Lisboa,
com o nome de Escolas Gerais, que mais tarde se transferiu para Coimbra, “com grande glória” do Arcebispo D.
Domingos Jardo. Fundou também em Lisboa o Hospital de Santo Elói, situado na
freguesia de S. Bartolomeu, em favor dos merceeiros, estudantes e clérigos de
vida comum, que pertenceu à Congregação dos Cónegos Seculares de São João
Evangelista (conhecidos por Loios) e nele jaz sepultado. Foi a sua morte em 16
de Dezembro de 1293.
(a) Possível
erro tipográfico. Deverá ser D. Afonso III.
M.S.
M.S.
Fontes:
Dicionário
Geográfico ou Noticia Historica, Pdre. Luís Cardoso da Congregação
do Oratorio de Lisboa, Academia Real do Numero da Historia Portuguesa, Tomo I,
Regia Officina SYLVIANA, e da Academia Real, MDCCXLVII. Biblioteca Nacional de
Lisboa. Págs. 73 a 74.
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=1379727
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