terça-feira, 24 de abril de 2018

Reflecção sobre Agualva

AGUALVA
 Topónimo sem grandes dificuldades de etimologia. Deriva de Água Alva (do latim Aqua Alba). A primeira referência conhecida surge nas Inquisições Afonsinas de 1220, que anotam entre os bens do Mosteiro de S. Vicente de Fora, uma herdade em Água Alva com dois casais (in aqua albunam hereditatem cum duobus casalibus).

Em 1272 aparece referida a Ribeira de Aqua Alba. Em 1286 tem já a forma portuguesa Agua Alva.
Foi sofrendo diversas alterações, e hesita em fixar-se numa forma definitiva; desde 1323 até princípios do séc. XIX escrevia-se Agoalva.
Agualva vai buscar as suas origens à água que ali passava com grande abundância e, ao que tudo indica era alva e pura.
Antes disso, chamava-se Jarda, de Jardo, o que significa amarelento, termo que, aplicado aos homens, quer dizer "homem loiro".
É precisamente com este apelido ou alcunha que nos aparece no séc. XIII, aquela que é a figura mais ilustre da freguesia:
Domingos Anes Jardo.
 Nasceu em Agualva-Cacém, no seio de uma família humilde, foi Bispo de Évora e Lisboa, e fundador do Convento dos Loios, Chanceler-Mor do Rei D. Dinis e fundador da Universidade de Lisboa, e ainda do Seminário de Santo Elói, São Paulo e São Clemente, tendo deixado por sua morte, todos os bens a este Seminário. Faleceu em Dezembro de 1294.
Agualva é a mais jovem freguesia das quinze que constituem o concelho de Sintra. Vem de tempos remotos a fixação das primeiras populações no local.
Agualva, Vila e Cidade
A freguesia de Agualva-Cacém, criada pelo Decreto-Lei nº. 39210, de 15 de Maio de 1953, tem conhecido um processo de evolução e desenvolvimento que a têm descaracterizado e isolado naquele conjunto de "vilas dormitório" que foram crescendo ao longo da linha de comboio, que liga Sintra a Lisboa.
Esta freguesia, que hoje vive entre o desconforto das grandes urbanizações, ainda preserva algumas memórias do passado. Estas tiveram até há poucos anos atrás, enquadradas numa paisagem descrita por muitos autores, como desafogada e com um tanto revestimento vegetal de vinhedos, pinheiros, eucaliptos e oliveiras.
A ocupação destas terras é muito antiga, o que pode ser testemunhado pelo Monumento Funerário Pré-Histórico, que é a Anta de Agualva. Hoje encontra-se em bom estado de conservação, porque foram feitos esforços para preservar o espaço onde está implantado.
Também desse tempo merecem referência a Gruta de Colaride, espaço que o homem pré-histórico adotou para as suas práticas diárias.
Agualva-Cacém, tem tido grande desenvolvimento populacional e urbano, foi elevada a Vila pela Lei nº. 66/1985, e à categoria de Cidade pela Lei nº. 34/2001 de 12 de Julho.
Pela Lei nº. 11-A/2013 de 28 de Janeiro, dá cumprimento à obrigação de reorganização administrativa de algumas freguesias, nomeadamente Agualva e Mira-Sintra, passando a designar-se União de Freguesias de Agualva e Mira-Sintra.
Agualva e Mira-Sintra é a terceira maior freguesia do concelho de Sintra, destacando-se a sede dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém, a esquadra da PSP, uma Biblioteca Municipal, um Centro Lúdico, um Centro de Saúde, e uma Loja do cidadão, entre outros serviços.
Moinhos e Azenhas
Nalguns lugares da freguesia, aonde a urbanização desordenada ainda não chegou, encontram-se vestígios arruinados de alguns dos numerosos moinhos e azenhas que noutros tempos existiam por montes e ribeiros de Agualva-Cacém.
Hoje temos imensa dificuldade em imaginar a paisagem rural de então. Onde agora se erguem os enormes blocos de cimento armado que nos servem de "dormitórios", outrora eram casais agrícolas e quintas dispersas, que forneciam os legumes frescos para abastecer as grandes cidades.
FEIRA DE AGUALVA

A Feira de Agualva era uma das mais antigas da região saloia, que se realizava desde 1713 na Praça da República, tendo acabado infelizmente, em 2005, quebrando assim uma tradição de quase 300 anos.

A Feira de Agualva era sempre no mês de Maio, durava todo o mês, estendia-se desde a Praça da República (Largo da Feira) até à linha do Caminho-de-ferro, tinha todo o tipo de comércio, desde restaurantes, onde se comiam as primeiras sardinhas da época, vestuário, legumes e hortaliças, apetrechos para o lar, barracas de farturas, carroceis, etc.
 Era uma referência na região, havia convívio principalmente ao final do dia e fins-de-semana. Tudo foi desaparecendo, até o "coreto" e com as últimas obras de Requalificação da Praça, temos agora um espaço enorme que mais parece um deserto!
Afinal nem tudo acaba bem...
Proteção e valorização Do património cultural de Agualva - Cacém
Têm-se deparado com difíceis obstáculos, os habitantes desta localidade vivem alheios às tradições e história local. Não sentem nem se identificam com uma herança cultural que também é sua, e por vezes assistem quase indiferentes à progressiva degradação e destruição do património cultural construído e do património natural.
 De salientar o papel da Autarquia na desmistificação desta situação, promovendo ações de divulgação junto dos moradores para que possam dar valor não só ao espaço em que vivem, mas também ao património que os envolve, para que se verifique uma melhoria da qualidade de vida e bem-estar da população.
Mimi Diogo (Maria Diogo)

Tapetes de Arraiolos

A História de Arraiolos parece perder-se no tempo. Vestígios relacionáveis com o Neolítico e o Calcolítico dão-nos sinais de uma significativa presença humana a partir do IV milénio AC e que, possivelmente, na elevação onde se localiza o castelo, seria já, na Proto-história, um grande local de habitação.
O historiador arraiolense Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara, na sua obra «Memórias da Vila de Arraiolos», depois de se referir a alguns aspetos históricos, bem como da sua nobreza e antiguidade, refere “… seja como for, tenho por certo que em princípios do século XIII já havia população no sítio de Arraiolos…” É ainda o mesmo autor que nos transmite referências do padre António de Carvalho da Costa, na «Corographia Portugueza» (tomo 2 pág. 525) e do padre Luís Cardoso no «Diccionario Geographico» (tomo 1º pág. 590), onde se atribui a fundação de Arraiolos a Sabinos, Tusculanos e Albanos, que foram ocupantes da cidade de Évora, antes de Sertório, e deram o governo de Arraiolos ao capitão grego, Reyo. Deste nome parece ter derivado o nome da povoação, já que de Reyo terá passado a Rayolis, Rayeopolis, Arrayolos e hoje Arraiolos.
Em 1212 inicia-se um novo capítulo da história, com a concessão do termo do Arraiolos, por D. Afonso II, ao bispo de Évora, D. Soeiro, e ao cabido da Sé da dita cidade.
D. Dinis atribui à vila o seu primeiro foral, em 1290 e, em 1305, manda edificar o Castelo, sendo outorgado o contrato para a sua construção em 26 de Dezembro do mesmo ano, entre o Rei e o Concelho, representado por João Anes e Martim Fernandes.
O título de Conde de Arraiolos foi originalmente concedido, por carta de D. Fernando, em 1371, a Álvaro Pires de Castro (irmão de Inês de Castro), ficando o título vago por o seu filho legítimo herdeiro (D. Pedro) ter seguido o partido de Castela. Em 16 de dezembro de 1387, D. João I nomeou D. Nuno Alvares Pereira, o Condestável, como 2º Conde de Arraiolos, tendo este ali vivido longos períodos da sua vida antes de se recolher ao Convento do Carmo, em Lisboa.
Em 1511 Arraiolos recebe novo foral de D. Manuel I.
Tendo os seus limites administrativos a partir de 1736, Arraiolos sofreu entretanto algumas alterações: inclusão no distrito de Évora (1835); anexação do concelho de Vimieiro (1855); anexação do concelho de Mora (1895) e, depois, sua desanexação (1898).
ARRAIOLOS, TERRA DOS TAPETES
Os Tapetes de Arraiolos são de há séculos a imagem de marca a que a vila e o concelho são indissociáveis. São séculos de história bordados à mão por gerações de bordadeiras que fizeram chegar até aos nossos dias o nosso mais genuíno artesanato, «o Tapete de Arraiolos». Arte antiga feita de muitos “saberes” e um mesmo “saber fazer”, que mãos exímias souberam construir, numa manifestação artística conhecida em todo o mundo e com lugar de destaque nas artes portuguesas, cuja origem se perde ao longo do tempo, testemunho de uma manufatura própria e única, sem repetição em qualquer outra parte do mundo. Peça têxtil genuinamente portuguesa, parte da história de Portugal, onde a influência oriental é a sua base estrutural decorativa, misturada com o saber local do bordar, através do uso do ponto cruzado oblíquo.
O ponto cruzado surge na Península a partir do século XII, sendo manifesta a utilização duma técnica com características muçulmanas (a Espanha recorre à seda, Portugal à lã).
Acerca da origem e história dos Tapetes de Arraiolos sabe-se que a região dispunha de condições favoráveis para o desenvolvimento deste artesanato, onde abundava a produção de lã em paralelo com uma importante atividade têxtil.
Arraiolos terá sido um dos locais onde se terão estabelecido algumas famílias de mouros expulsos por D. Manuel I, em 1496. Localizaram-se na região alentejana, onde deitou raízes a influência islâmica e, debaixo da aparência da recente conversão, apoiaram-se nos seus tradicionais ofícios.
Já na primeira metade do século XVIII, Arraiolos fornecia outras regiões do País, tornando-se no principal centro deste tipo de bordado. Este tipo de tapetes era habitualmente utilizado no arranjo decorativo da casa portuguesa do século XVIII (revestimento de paredes, mesas e arcas, e cobertura de pavimentos).
 Em documentação relativa à sisa de 1573, do núcleo urbano com profissão indicada, de 122 moradores, 31 (25%) tinham profissões ligadas ao ramo: 18 tecelões, 7 cardadores, 2 pisoeiros, 2 tosadores, 1 tintureiro e 1 surrador. Os próprios inventários dão conta da importância destas atividades no conjunto da população. A produção de tapetes exigia quási todas estas as profissões, quer na preparação da lã e coloração, quer na produção da tela na qual o bordado se executava.
A referência mais antiga conhecida está no inventário (1598) de Catarina Rodrigues, mulher de João Lourenço, lavrador e morador na herdade de Bolelos, no termo de Arraiolos, onde é descrita a existência de um tapete da terra, novo, avaliado em “dous mil Reis”, que se encontra no Arquivo Municipal de Arraiolos. No mesmo arquivo se encontra descrito outro exemplar, que a bordadeira deixou incompleto, no inventário de Juliana Dordio, mulher de Belchior Meirinho, moradora em Arraiolos, na rua da Cruz, onde de entre os bens do casal se menciona “hum tapete por acabar avaliado em mil Reis” e, mais à frente “huns pouquos de novelos de fiado de lam para tapete de cores avalliados em tressentos Reis”, “sinquo vellos de lam quatro pretos e hum branquo (…)” e “des aRateis de lam asul (…)”.
Se há referências que provam que já em 1598 se bordavam tapetes em Arraiolos, recentes investigações documentais e arqueológicas apontam para que as origens de produção desta expressão artística, em Arraiolos, sejam ainda mais antigas.
Com efeito, o estudo de amostras recolhidas pelo Laboratório do Museu de Arqueologia da Catalunha (Barcelona), provenientes das fossas escavadas na Praça do Município, identificou a presença de lã de ovelha com restos de tintura por ação da raiz da “Rubia tintorum”, uma das plantas utilizadas na tinturaria, assim como escavações arqueológicas, sob a responsabilidade da arqueológa Ana Gonçalves, realizadas na Praça Lima e Brito, sem prejuízo de uma investigação mais pormenorizada, indiciam a produção de tapetes em Arraiolos para uma fase anterior ao século XV.
M.S.
Fontes: 
http://www.bdalentejo.net/BDAObra/obras/80/BlocosPDF/bloco09-55_64.pdf
http://www.cm-arraiolos.pt/pt/site-visitar/tapetes%20de%20arraiolos/Paginas/Breve-apontamento-historico.aspx
http://www.cm-arraiolos.pt/pt/site-municipio/O%20Concelho/Paginas/Apontamento-Hist%C3%B3rico.aspx
https://www.infopedia.pt/$tapetes-de-arraiolos
Dissertação de Rita Carvalho Teixeira de Oliveira Marques, FCT da Universidade Nova de Lisboa (Grau de Mestre em Conservação e Restauro)

sábado, 21 de abril de 2018

Agualva, Sintra


“O povoamento do território da freguesia remonta à conquista Cristã de Lisboa e Sintra aos Mouros, em 1147, por D. Afonso Henriques. A primeira referência conhecida surge nas inquirições Afonsinas de 1220.
No século XII, “Agualva” e Cacém já eram povoadas. O curso da ribeira das Jardas ou da Água Alva demarcavam então os limites administrativos e paroquiais. Agualva e outros lugares da margem esquerda da Ribeira faziam parte da freguesia de Belas, enquanto Cacém, São Marcos e outros lugares da margem direita estavam integrados no termo de Sintra e faziam parte da freguesia de Rio de Mouro.
Note-se que Agualva, enquanto lugar da freguesia de Belas era lugar conhecido por Jardo, o que levou o célebre Bispo de Lisboa, D. Domingos, por ter nascido ali a apelidar-se de Jardo.
Nos séculos seguintes expandiu-se o povoamento e a ocupação do território com o aparecimento de várias quintas solarengas (Quinta da Barroca, Quinta da Fidalga, Quinta do Tojal, etc.). No final do séc. XVIII Agualva-Cacém teria cerca de 450 habitantes e em meados do séc. XIX cerca de 500. A 3 de Junho de 1709 é dado alvará à feira de Agualva, uma das mais antigas da região saloia, com o objetivo de manter a ermida de Nª. Sra. da Consolação.” (https://www.jf-agualvamirasintra.pt/a-freguesia/origemhistoria/)
Segundo o Diccionario Geografico do padre Luís Cardoso da Congregação do Oratorio de Lisboa, Academico Real do Numero da Historia Portuguesa, Tomo I, (Biblioteca Nacional de Lisboa), Agualva é «Lugar na Província da Estremadura, Patriarcado de Lisboa e Termo da Cidade de Lisboa, Comarca de Torres Vedras, Freguesia de Nossa Senhora de Misericórdia de Belas: tem trinta e oito vizinhos com sua Ermida dedicada a N. Senhora da Consolação, Imagem milagrosa e de muita romagem no mês de Maio. Há outra Ermida dedicada a N. Senhora do Carmo, de José Ramos da Silva, Provedor da Casa da Moeda
Foi neste lugar, outrora chamado Jardo, ou Jarda, hoje conhecido com o nome de Agualva, que nasceu de pais humildes o arcebispo D. Domingos, que da sua terra adotou o sobrenome de Jardo, “igualmente assistido dos dotes da natureza e desamparado dos bens da fortuna”. Vendo-se este entre as misérias e ignorâncias da sua terra e levado do grande desejo que tinha de se entregar no estudo das letras, “para que tinha natural inclinação”, aos catorze anos resolveu deixar o lugar e a companhia de seus pais´, indo para a Lisboa. Vendo que ali não havia estudos, partiu para a Cidade de Paris, para cursar naquela Universidade, acabando por se laurear na faculdade dos sagrados Cânones, onde adquiriu nome e foi conhecido geralmente por insigne letrado entre os grandes daquela Universidade. Era grande o desejo de voltar para a sua Pátria, porém, ainda passou por Roma, visitando os lugares santos e acabando aí por se ordenar Sacerdote; durante o tempo em que esteve na Cúria Romana, vagando uma Conezia de Évora, foi nela provido e veio para o Reino, dando-se logo a conhecer pelos seus dotes de grande letrado, “por cuja causa o Senhor Rei D. Afonso IV (a) o chamou a si e o fez seu Chanceler-mor.” Na vagante do arcebispado de Évora, foi ocupar lugar naquela Mitra; pouco depois vagando o de Lisboa, foi transferido neste arcebispado pelo Sumo Pontífice Nicolau IV, “com grande gosto do Senhor Rei D. Dinis”.
Vendo D. Domingos Jardo o grande desfavor que causava a este Reino a falta de estudos, o que não permitia o aproveitamento de algumas pessoas com talento e inclinação para as letras, para que se não deixassem de aproveitar, pediu ao Rei D. Dinis que instituísse neste Reino uma Universidade, o qual facilmente se deixou persuadir e logo erigiu uma no bairro de Alfama, na Corte de Lisboa, com o nome de Escolas Gerais, que mais tarde se transferiu para Coimbra, “com grande glória” do Arcebispo D. Domingos Jardo. Fundou também em Lisboa o Hospital de Santo Elói, situado na freguesia de S. Bartolomeu, em favor dos merceeiros, estudantes e clérigos de vida comum, que pertenceu à Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista (conhecidos por Loios) e nele jaz sepultado. Foi a sua morte em 16 de Dezembro de 1293.
(a)   Possível erro tipográfico. Deverá ser D. Afonso III.
M.S.
Fontes:
Dicionário Geográfico ou Noticia Historica, Pdre. Luís Cardoso da Congregação do Oratorio de Lisboa, Academia Real do Numero da Historia Portuguesa, Tomo I, Regia Officina SYLVIANA, e da Academia Real, MDCCXLVII. Biblioteca Nacional de Lisboa. Págs. 73 a 74.
http://digitarq.arquivos.pt/details?id=1379727